segunda-feira, 11 de março de 2013

[Conto #2] O Coração Denunciador


Eu sou apaixonado por histórias de horror clássicas. Já li autores como Robert Louis Stevenson e me apaixonei por Edgar Allan Poe. Ele é, sem nenhuma dúvida, o mestre do horror. Eu gosto da impregnação do terror nas suas histórias. Como eu li em um blog, Poe não coloca uma pessoa normal em lugares perturbantes, mas coloca pessoas perturbadas em lugares normais. Narrado em primeira pessoa – como a maioria dos seus contos – no começo do conto o leitor já percebe que o protagonista tem uma mente perturbada, pois não consegue suportar os olhos de um idoso que ele cuida.



‘’É impossível dizer como a ideia me penetrou primeiro no cérebro. Uma vez concebida, porém, ela me perseguiu dia e noite. Não havia motivo. Não havia cólera. Eu gostava do velho. Ele nunca me fizera mal. Nunca me insultara. Eu não desejava seu ouro. Penso que era o olhar dele! Sim, era isso! Um de seus olhos se parecia com o de um abutre. . .um olho de cor azul-pálido, que sofria de catarata. ’'


O protagonista vigia o velho por dias, mas não tem coragem de matá-lo. Porém um dia o velho abre o olho e, como o protagonista odeia aqueles olhos, toma coragem para matá-lo. A polícia vai interrogá-lo e... Não gosto de contar muita coisa. Embora o conto seja bem pequeno, eu não costumo dar spoilers. Poe continua com sua magnífica narração que me cativa tanto. Poe é mestre em terror psicológico e é esse gênero que eu aprecio muito. Eu fiquei angustiado junto como protagonista no final. Quando o coração do morto volta a bater, você será capaz de resistir à angústia?

‘’Sem dúvida agora fiquei muito pálido; mas falei com mais fluência, e em voz mais alta. Mas o som crescia - e o que eu podia fazer? Era um som baixo, surdo, rápido — muito parecido com o som que faz um relógio quando envolto em algodão. Arfei em busca de ar, e os policiais ainda não o ouviam. Falei mais depressa, com mais intensidade, mas o barulho continuava a crescer. Levantei-me e discuti sobre ninharias, num tom alto e gesticulando com ênfase; mas o barulho continuava a crescer. Por que eles não podiam ir embora? Andei de um lado para outro a passos largos e pesados, como se me enfurecessem as observações dos homens, mas o barulho continuava a crescer. Ai meu Deus! O que eu poderia fazer? Espumei — vociferei — xinguei! Sacudi a cadeira na qual estivera sentado e arrastei-a pelas tábuas, mas o barulho abafava tudo e continuava a crescer. Ficou mais alto — mais alto — mais alto! E os homens ainda conversavam animadamente, e sorriam. Seria possível que não ouvissem? Deus Todo-Poderoso! — não, não? Eles ouviam! — eles suspeitavam! — eles sabiam! - Eles estavam zombando do meu horror! — Assim pensei e assim penso. Mas qualquer coisa seria melhor do que essa agonia! Qualquer coisa seria mais tolerável do que esse escárnio. Eu não poderia suportar por mais tempo aqueles sorrisos hipócritas! Senti que precisava gritar ou morrer! — e agora — de novo — ouça! Mais alto! Mais alto! Mais alto! Mais alto! ‘’

Sugiro o conto para quem gosta daquele terror psicológico, assim como eu. Poe sabe criar uma boa história, com um enredo fantástico e com personagens bem feitos.

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